Caminhada de mulheres lésbicas protesta contra violências e racismo

Como parte das atividades da semana da diversidade que precede a 29ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, foi realizada neste sábado (21) a 23º Caminhada de mulheres lésbicas e bissexuais de São Paulo. Com concentração no Largo do Paissandú, às 13h, o grupo caminhou até a Praça da República com o objetivo de trazer visibilidade às lutas das mulheres lésbicas e bissexuais para direitos, cidadania e reconhecimento de sua existência. O evento contou com saudações de organizações, coletivos lgbt+, feministas, representantes do poder público, de entidades da sociedade civil, além de atrações musicais. “A ideia da caminhada surgiu em 2003 a partir do Seminário Nacional de Lésbicas que decidiu sair das discussões e fazer um ato publico. Mulheres saindo em caminha para visibilizá-las dentro desse semana da diversidade, porque até então não eram tão vistas. Foi para lutar por visibilidade que seguimos carregando a nossa bandeira em um dia de luta e diversão para celebrar nossa existência, nossa, vida e reivindicar nossos direitos”, disse Cinthia Abreu, organizadora da caminhada. De acordo com a organização, em sua 23ª edição, a Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo se consagra como um dos principais marcos de luta e visibilidade de mulheres lésbicas e mulheres bissexuais no mês do Orgulho LGBTQIA+ na cidade, consolidando-se como um potente ato político de resistência e insurgência.  “Seguimos ocupando as ruas em defesa intransigente da democracia e contra todas as formas de opressão: o patriarcado, o sexismo, o racismo, a lesbofobia e a bifobia. Caminhamos firmes, coletivamente, afirmando nossas existências, nossas resistências e nossas conquistas. Exigimos  justiça, dignidade e plenos direitos para todas as mulheres lésbicas e bissexuais”. Manifesto Durante o ato, foi lançado o Manifesto 23ª Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo 2025 Por uma vida livre das violências e do racismo! Em defesa da democracia e sem anistia aos golpistas!, dizendo que “a lesbofobia e o racismo não apenas se entrecruzam, mas operam como forças estruturais de exclusão que violentam diariamente, principalmente as mulheres negras lésbicas e nossa comunidade como um todo, negando-lhes o acesso à educação de qualidade, ao mercado de trabalho e à cidadania”. Segundo do manifesto, as políticas públicas não protegem e ignoram essas pessoas, já que casos de lesbocídios crescem exponencialmente a cada ano. “Nesses casos, o silêncio e a invisibilidade imperam permitindo e também promovendo crimes de ódio com requintes de crueldade. Vamos honrar suas memórias tanto neste manifesto quanto em todas as nossas lutas diárias, como mulheres que poderiam, e ainda podemos, ter o mesmo destino que elas. Recusamos esse cenário para as nossas vidas e para toda a sociedade”, afirma o texto. Direitos A diarista Luciana Cabral, 42 anos, participou da caminhada ao lado da companheira e professora de educação física Paloma Cesáreo Cabral, de 39 anos. Elas são casadas há duas décadas e entendem como essencial a participação em atos públicos. “É o terceiro ano que a gente vem. Estamos aqui pela política de sobrevivência, direitos e permanência, pelo direito de ser quem a gente é”, destaca Luciana. Paloma também lembra da importância do diálogo com as famílias. Ela conta que alguns parentes invalidam o sentimento existente entre mulheres lésbicas: “Estamos casadas há 20 anos e eles ainda estão esperando a gente virar amiga.” Para a cineasta Alice Leal Chiappetta, 24 anos, a caminhada é uma oportunidade de levar para as ruas uma luta que não pode ficar restrita às redes sociais. “Precisamos dessa união política, essa humanização de nós mesmas, nos conhecermos para fora das redes, entender tudo que as mais velhas já lutaram e não perder isso”, ressalta.  Repórter da Agência Brasil

Estudantes e professores fazem ato contra racismo em Higienópolis

Estudantes, professores e pais de alunos do Colégio Equipe fizeram nesta quarta-feira (23) um ato para repercutir ainda mais as denúncias de um caso de racismo cometido no shopping Pátio Higienópolis, localizado no bairro de mesmo nome, em São Paulo. Dois alunos da instituição do ensino fundamental II denunciam que foram abordados, na última quarta-feira (16), de maneira discriminatória por uma das funcionárias encarregadas de fazer a segurança do centro comercial. A manifestação reuniu centenas de pessoas, que se agruparam no cruzamento da Avenida Higienópolis, onde fica o shopping, com a Avenida Angélica. A maioria dos manifestantes eram alunos do ensino básico, provenientes não somente do Colégio Equipe, mas de outras instituições que se solidarizaram e aderiram à mobilização.  Em comunicado que convocava a comunidade a participar do movimento, o Equipe destacou que o protesto foi puxado por movimentos sociais que lutam pelo direito à moradia e contou com o apoio do Instituto Equipe, Equipreta e Grêmio Sankara.  Benedito Barbosa, advogado que acompanha o caso, explicou à Agência Brasil que soube do caso pela liderança de um dos movimentos sociais. Alunos durante o protesto no Shopping Pátio Higienópolis – Letycia Bond/Agência Brasil Marca Uma das vítimas de racismo vive em uma ocupação conhecida da capital e é bolsista do Colégio Equipe e integrante do programa Proceder, que faz a ponte entre a escola e coletivos que têm a bandeira da habitação digna para todos. O advogado classifica o ato de segregação como algo “muito cruel e inaceitável” e avalia que hoje há mais indignação por parte da sociedade em geral diante desse tipo de situação e que o Brasil já admite ser um país racista. “No nosso manifesto, está [a analogia de] que é como se fosse uma chicotada no corpo, na alma desses adolescentes. Vai ficar para sempre esse ato de racismo”, disse o Barbosa.  “A gente quer que o shopping pare de só pedir desculpas. Quer que ele faça de fato ações concretas, para que não haja mais discriminação”, protestou. Também presente no protesto, Maria Nogueira, da coordenação do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (USP), lembra que não é a primeira vez que o shopping se torna centro das atenções por conta de uma linha higienista, ou seja, que deseja distância de tudo que toma como indesejável. “Acho que os atos do mundo todo, de 2020, também passaram aqui pelo Brasil e acenderam em um setor que até então não se mobilizava tanto a partir da solidariedade racial uma nova visão de mundo”, disse.  “E o simbolismo disso, de todos os membros da escola, da juventude mesmo, pois tem carinhas aqui muito jovens, de 13, 14 anos participando provavelmente das suas primeiras manifestações, é algo muito importante”, emendou, pontuando, ainda, que já há certo nível de progresso pela preocupação de consumidores sobre o tipo de políticas os empreendimentos e marcas adotam diante de questões sociais. Mãe de estudantes do Equipe e integrante da Comissão Antirracista da escola, Mariana Carlin comenta que o grupo foi formado após a constatação de que havia uma necessidade de se promover o letramento racial e que ele deu origem ao Equipreta, de alunos. Por último, conceberam o Equipretinha, para crianças mais novas, dos ensinos infantil e fundamental I. Segundo conta Mariana, os dois alunos vítimas de racismo foram destratados pela agente de segurança logo depois de saírem de uma atividade em que debatiam o assunto. Perguntada sobre a possibilidade de ter procurado uma escola com perfil voltado a processos formativos com orientação para a diversidade, ela diz que sim e que encontrou poucas instituições nesse modelo.  “É muito raro e são as mais progressistas. Eu morava um pouco mais longe e até me mudei para ficar mais próxima da escola. A gente pesquisou algumas escolas e existia a proposta de comissões, colegiados antirracistas, mas nunca me pareceu efetivo, porque não existia um posicionamento claro. Inclusive, em relação a cotas de funcionários”, relata, deixando subentendido que muitas abrangem apenas o corpo discente nas ações de combate ao racismo, deixando de fora os empregados. Alunos durante o protesto no Shopping Pátio Higienópolis – Letycia Bond/Agência Brasil Bairro Higienópolis é um dos bairros nobres da capital paulista, com moradores e moradoras de classes média e alta. Ficou conhecido em 2011 pela polêmica surgida com a recusa de parte dos habitantes de abrirem uma estação de metrô na região. Na época, uma moradora afirmou que a estrutura atrairia “gente diferenciada” ao bairro, expressão que utilizou para se referir a pessoas pobres e de outros grupos minoritários e marginalizados. A declaração provocou uma reação de quem a considerou preconceituosa. Com isso, esta parcela organizou o “churrasco de gente diferenciada” para rebater a postura elitista e excludente. Em nota, a administração do shopping Pátio Higienópolis disse lamentar o ocorrido e que está em contato com a família dos adolescentes vitimados. “O comportamento adotado não reflete os valores do shopping e o tema está sendo tratado com máxima seriedade”, afirma. “O empreendimento possui frequente grade de treinamentos e letramento, que será ainda mais reforçada para reiterar nosso compromisso inegociável com a construção de um espaço verdadeiramente seguro e acolhedor para todas as pessoas.” De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, o caso foi encaminhado à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para apuração dos fatos.