A importância do Brasil para a China na América Latina: entre parceria estratégica e ameaça à indústria nacional
Recentemente, o premier chinês e o presidente Xi Jinping reforçaram a importância do Brasil como parceiro estratégico da China na América Latina, destacando a cooperação ampliada em áreas como infraestrutura, tecnologia, energia renovável e comércio bilateral, que ultrapassou a marca histórica de US$ 500 bilhões em 2024. Essa relação é celebrada oficialmente como uma “Comunidade de Futuro Compartilhado” e um modelo de parceria Sul-Sul que visa o desenvolvimento sustentável e a modernização econômica de ambos os países.
No entanto, apesar do discurso diplomático otimista, a crescente presença e expansão das empresas chinesas no Brasil suscitam preocupações legítimas sobre os impactos dessa relação para a indústria nacional e a soberania econômica do país.
O discurso oficial e a realidade econômica
O governo chinês enfatiza que a cooperação com o Brasil é pautada em benefícios mútuos, com investimentos em infraestrutura, inovação tecnológica, energias renováveis e integração regional, além do compromisso conjunto em temas globais como o multilateralismo e a governança cibernética. O Brasil, por sua vez, vê na China um parceiro crucial para ampliar seu desenvolvimento, especialmente em setores estratégicos como mineração, transportes e tecnologia.
Porém, a narrativa oficial esconde um lado menos favorável para a indústria brasileira. A entrada massiva de empresas chinesas no mercado nacional tem provocado uma concorrência desigual, devido a fatores como subsídios estatais chineses, produção em larga escala e preços agressivos, que pressionam as empresas locais, muitas vezes menos competitivas e com menor capacidade de inovação.
Impactos da expansão chinesa na indústria nacional
A presença chinesa no Brasil tem se traduzido em investimentos diretos, aquisições e parcerias que, embora tragam capital e tecnologia, também podem levar à dependência econômica e à desindustrialização. Setores tradicionais da indústria brasileira, como siderurgia, eletroeletrônicos e bens de consumo, enfrentam dificuldades para competir com produtos chineses importados ou fabricados localmente por subsidiárias chinesas.
Essa dinâmica contribui para o fechamento de fábricas, perda de empregos industriais qualificados e enfraquecimento da cadeia produtiva nacional. Além disso, a concentração de investimentos chineses em setores estratégicos, como mineração e infraestrutura, pode resultar em controle estrangeiro sobre recursos naturais e ativos essenciais, comprometendo a autonomia econômica do Brasil.
O risco da assimetria na relação bilateral
Apesar do discurso de parceria igualitária, a relação Brasil-China é marcada por uma assimetria significativa: a China é uma potência global com forte capacidade industrial e tecnológica, enquanto o Brasil ainda luta para consolidar sua base industrial e tecnológica. Essa diferença de poder econômico pode levar a uma relação de dependência, onde o Brasil se torna fornecedor de matérias-primas e mercado consumidor, mas não consegue desenvolver plenamente sua indústria e inovação.
Além disso, a estratégia chinesa de expandir sua influência na América Latina, incluindo o Brasil, faz parte de um projeto geopolítico mais amplo, que visa fortalecer sua posição global e criar uma rede de dependência econômica que pode limitar a autonomia dos países da região.
O desafio para o Brasil
Diante desse cenário, o Brasil precisa adotar uma postura crítica e estratégica para garantir que a cooperação com a China não se transforme em um processo de desindustrialização e perda de soberania. Isso passa por políticas públicas que fortaleçam a indústria nacional, incentivem a inovação tecnológica local e regulem a entrada e atuação das empresas estrangeiras no país.
Também é fundamental diversificar parceiros comerciais, evitando a concentração excessiva em um único país, e buscar acordos que promovam transferência de tecnologia e desenvolvimento conjunto, em vez de simples fornecimento de commodities ou mercado consumidor.
A importância do Brasil para a China na América Latina é inegável, e a cooperação bilateral pode trazer avanços econômicos e tecnológicos. Contudo, o crescimento das empresas chinesas no Brasil, se não for acompanhado de políticas estratégicas, pode destruir a indústria nacional, aprofundar desigualdades e comprometer a autonomia econômica do país.
Portanto, é imperativo que o Brasil equilibre a relação com a China, aproveitando os benefícios da parceria, mas com vigilância e ações firmes para proteger e desenvolver sua indústria, garantindo um futuro econômico sustentável e soberano.