Gaza, sociedade civil se mobiliza para apoiar crianças afetadas pela guerra

Norte de Gaza, tarde da noite. Os estrondos sombrios de morte dos bombardeios aproximam-se da casa da família da pequena Rawan. A mãe e o pai conseguem se salvar, enquanto, para os agentes de socorro, a menina de dez anos presa sob os escombros não teria sobrevivido. Sua mãe se recusa a desistir e seu pai escava com as próprias mãos os escombros fumegantes: finalmente conseguem abraçá-la. Ela está ferida, coberta de poeira, mas seu coração ainda bate. Não importa o mês ou o dia em que aconteceu, porque tudo isso representa a síntese emblemática da dor e do desespero em que as crianças da Faixa de Gaza se afundaram.

Traumas profundos

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“Embora tenha sobrevivido fisicamente, Rawan sofreu um trauma emocional muito profundo porque, juntamente com a sua família, foi forçada a fazer exaustivas transferências entre as tendas de Deir al, Balah e Khan Younis sem ter mais um lar, uma estabilidade e uma sensação de segurança”. Heyam Hayek conhece bem esta menina de cabelos escuros e olhar profundo: foi ela quem a acolheu, como diretora-geral, nas instalações da Centelha para inovação e criatividade, uma organização palestina independente fundada em 2018 com o objetivo de apoiar crianças, jovens e adolescentes através de programas que integram tecnologia, educação, arte e consciência ambiental. Recorda com pesar que “nos primeiros dias em que participou nas nossas sessões de apoio psicossocial, Rawan permaneceu em silêncio, distante, quase hesitante. Contou que à noite acordava chorando, tomada pelo pânico. Com o tempo, encontrou alívio desenhando e contando histórias”.

Caminhos de Cura

Agora, a pequena sobrevivente empreendeu um longo e difícil caminho de cura que a levou a deixar de ter medo dos fantasmas do passado, mesmo que a sua vida em Gaza continue por um fio tênue e frágil. Em uma das ondas de destruição mais devastadoras que arrasou dezenas de infraestruturas culturais e educacionais, a Centelha perdeu vários laboratórios e centros de assistência que custaram dinheiro e suor. “Mas não paramos”, explica Hayek. “Hoje, administramos dois centros de aprendizagem e apoio, um na Cidade de Gaza e outro em Deir al Balah, onde continuamos a envolver crianças, pais e jovens em atividades educacionais, psicossociais e de desenvolvimento de habilidades.”

Espaços Seguros

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As atividades dos 7 membros da equipe e dos 25 voluntários da Ong palestina se estendem até o coração do inferno: aqueles malditos campos de acolhimento construídos às pressas em meio à lama e escombros que abrigam milhares de deslocados que agora não têm mais nem um pedaço de pão. É aí que, em espaços seguros e dedicados, as crianças podem brincar e expressar livremente suas emoções, desfrutar de pequenos momentos de alegria, saborear a normalidade da vida por um tempo. Hayek define isso como “uma resistência suave, uma esperança obstinada, uma luta pela vida e contra a violência cega. Nosso trabalho com crianças se tornou uma tábua de salvação em meio à devastação”.

Desejos e sonhos

Todos os dias, em seu caderno, a diretora-geral da Centelha anota os sonhos das crianças de Gaza, um por um. E eles são sempre os mesmos: “Voltar à escola, viver em uma casa segura, brincar livremente. Os jovens maiores aspiram a concluir seus estudos, encontrar um emprego estável e viver em paz em sua terra natal”. Desejos difíceis de realizar em um contexto em que a sociedade civil é forçada a operar sob crescente pressão: inúmeras organizações humanitárias perderam seus escritórios devido aos bombardeios e outras estão impossibilitadas de funcionar devido a constantes cortes de energia e dificuldades de comunicação.

Programas envolventes

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Heyam Hayek admite que “trabalhar em Gaza com uma guerra em andamento é como navegar em um campo minado. Não existem zonas verdadeiramente seguras, mas fazemos o possível para adaptar o conteúdo de nossos programas aos recursos realmente disponíveis, envolvendo também as famílias, considerando-as parte ativa de todo o processo de ajuda. O sofrimento das crianças não pode ser separado das experiências de seus pais: é por isso que a Centelha também oferece às mães e aos pais a possibilidade de um pequeno apoio econômico, envolvendo-os em microatividades de reciclagem ou jardinagem doméstica”.

Apelo à comunidade internacional

Em seguida, ela acrescenta uma lista de cinco necessidades urgentes para as quais lança um apelo à comunidade internacional: garantir a entrega regular e segura de ajuda humanitária; apoiar a educação de emergência para que as crianças continuem aprendendo apesar da destruição das escolas; financiar programas de apoio psicossocial; apoiar a sociedade civil mais próxima das pessoas e capaz de responder às suas necessidades; exercer pressão para pôr fim à impunidade dos responsáveis. Porque a verdadeira cura certamente não pode ocorrer na ausência de justiça.

Federico Piana – Vatican News

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