Levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva, em parceria com a Semana da Acessibilidade Surda, revela que o Brasil possui cerca de 10,7 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva. Essa condição é classificada conforme a incapacidade de perceber determinados níveis de decibéis, sendo considerada surda a pessoa que apresenta perda profunda ou total da audição. Neste contexto, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado nesta terça-feira (3), destaca a importância da inclusão e dos direitos das pessoas com deficiência.
Desafios Enfrentados
A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, com o objetivo de garantir direitos e acesso às pessoas com deficiência. Para que a inclusão seja efetiva, é fundamental que haja condições adequadas para a inserção e permanência dessas pessoas no mercado de trabalho. A Agência Brasil conversou com indivíduos que enfrentam esses desafios diariamente.Júnior Teles, 51 anos, contador no Tribunal Superior Eleitoral, possui deficiência auditiva neurossensorial bilateral descendente.
Ele relata que enfrenta dificuldades em entender conversas paralelas e sons agudos, mas utiliza Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASI) e faz leitura labial para se comunicar. Júnior destaca que informar aos colegas sobre sua deficiência auditiva facilitou as interações no ambiente de trabalho.
“Passei a usar aparelhos auditivos e essa acessibilidade tem me ajudado muito, embora não resolva 100%. Como sabem que eu tenho perda auditiva, mas também sou bem oralizado (não uso Libras), venho me adaptando bem aos ambientes de trabalho, desde que não sejam locais ruidosos e com muitas pessoas falando ao mesmo tempo”, explica Júnior.
A Importância da inclusão
Amarildo João Espindola, professor universitário e surdo, lidera o projeto “Libras em Cena”, que promove a integração entre surdos e ouvintes por meio de atividades artísticas. Ele enfatiza que a falta de intérpretes de Libras em ambientes de trabalho pode criar barreiras significativas para os surdos.
Museu do Folclore
“Quando chegamos em qualquer ambiente sem intérprete ou profissional fluente em Libras, enfrentamos limitações. No mercado de trabalho não é diferente”, afirma Amarildo. Ele ressalta que as relações profissionais são impactadas pela falta de acessibilidade e comunicação adequada.“
A questão é que trabalhar não está focado apenas nas atividades diretamente realizadas, mas em todo o contexto em que a pessoa está inserida: desde o momento em que entra no local de trabalho até as interações administrativas e sociais”, acrescenta.
Consequências da falta de integração
A advogada trabalhista Iara Neves alerta para os riscos do isolamento social decorrente da falta de integração dos empregados surdos no ambiente corporativo. “A falta de integração adequada do empregado surdo pode resultar em seu isolamento do convívio social e na subutilização das suas habilidades, ao atribuir funções com poucas chances de desenvolvimento profissional”, explica Iara.Ela também sugere alternativas para contornar problemas relacionados à falta de acessibilidade. “Caso os direitos dos trabalhadores surdos não sejam cumpridos, eles podem conversar com os empregadores ou com o setor de Recursos Humanos da empresa. Se as tentativas de diálogo não forem eficazes, o empregado pode ingressar com uma ação na Justiça do Trabalho”, orienta.
Estratégias para inclusão
Amarildo João propõe estratégias concretas para ampliar a inclusão das pessoas surdas no mercado de trabalho. “É preciso capacitar as pessoas ouvintes em Libras e na cultura surda para aproximar os mundos ouvinte e surdo. Além disso, é fundamental contratar profissionais fluentes em Libras em diversas áreas, como tradutores, intérpretes, professores e até mesmo recepcionistas”, sugere.Algumas práticas simples podem facilitar a comunicação e promover a inclusão:
- Falar com clareza e pausadamente: Isso ajuda na compreensão das pessoas com surdez parcial.
- Dirigir-se diretamente à pessoa com deficiência auditiva: Isso possibilita a leitura labial.
- Instalar painéis e alarmes com aviso luminoso: Esses dispositivos ajudam na visualização de informações escritas em locais públicos.
O cenário atual
Segundo dados do Instituto Locomotiva, 54% das pessoas com deficiência auditiva são homens e 46% são mulheres. A maioria dessas pessoas apresenta deficiência adquirida ao longo da vida – 91% – sendo que metade delas desenvolveu a condição antes dos 50 anos. O estudo também revela que apenas 13% das pessoas com deficiência auditiva utilizam aparelhos auditivos.
A pesquisa aponta que dois em cada três brasileiros relatam enfrentar dificuldades nas atividades cotidianas devido à deficiência auditiva. Isso resulta em menos oportunidades no mercado de trabalho e limitações na educação – apenas 7% dos surdos têm ensino superior completo.
O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência serve como um lembrete da necessidade urgente de promover a inclusão e garantir os direitos das pessoas com deficiência auditiva no Brasil. A conscientização sobre as barreiras enfrentadas por essas pessoas é fundamental para criar um ambiente mais acessível e justo.
As histórias compartilhadas por Júnior Teles e Amarildo João destacam a importância da comunicação efetiva e do respeito às diferenças. Ao implementar estratégias inclusivas no mercado de trabalho e na sociedade como um todo, podemos garantir um futuro mais igualitário para todos os cidadãos brasileiros. A luta pela inclusão deve ser contínua, pois cada passo dado é um avanço rumo à igualdade e ao respeito pelos direitos humanos.