A telefobia e o impacto da automação por IA na geração Z
A crescente integração da inteligência artificial (IA) nos serviços de atendimento telefônico transformou a relação da sociedade — em especial da Geração Z — com as chamadas de voz.
O medo de falar ao telefone, conhecido como telefobia, atinge uma parcela considerável dos jovens e já começa a causar efeitos profundos no bem-estar individual e coletivo.
A telefobia na geração Z
Estudos mostram que até 23% dos jovens da Geração Z relatam ansiedade significativa ao falar ao telefone.
O desconforto ocorre não apenas pelo medo do desconhecido — como quem está ligando ou o que será dito —, mas também pela ausência de recursos visuais na comunicação de voz, o que diminui o senso de controle e aumenta o temor de julgamento.
Entre os principais comportamentos observados estão:
- Evitar chamadas, preferindo mensagens de texto, áudio ou redes sociais.
- Sentir ansiedade, estresse ou pânico ao ver o celular tocar.
- Acreditar que ligações inesperadas geralmente trazem más notícias.
Consequências emocionais e sociais
A aversão às ligações não se limita ao desconforto momentâneo. A preferência pela comunicação assíncrona pode acarretar:
Isolamento social
A diminuição de interações por voz — e, consequentemente, de conversas espontâneas e não roteirizadas — contribui para a perda de habilidades de socialização e para o aumento do isolamento social.
Pesquisas recentes apontam que os jovens passam mais tempo sozinhos do que as gerações anteriores, o que pode comprometer o desenvolvimento de laços sociais e afetar o sentimento de pertencimento à coletividade.
Ansiedade e depressão
A falta de interação presencial e por voz já foi associada a impactos negativos na saúde mental:
- Elevação dos níveis de ansiedade.
- Maior incidência de sintomas depressivos.
- Sensação de solidão e desamparo, agravada pelo ciclo de evitar interações que poderiam ser benéficas emocionalmente.
O papel da automação por IA
Assistentes virtuais e sistemas automatizados baseados em IA oferecem conveniência ao fazer ligações e obter informações, principalmente para quem sente ansiedade social.
Entretanto, ao automatizar tarefas como reservas, consultas e negociações telefônicas, há impactos ambíguos:
Efeitos positivos
- Reduzem a pressão imediata sobre indivíduos que possuem fobia social ou ansiedade ao telefone.
- Agilizam o acesso a informações de maneira impessoal e eficiente.
- Permitem delegar tarefas consideradas “desconfortáveis” ou “estressantes”.
Riscos no longo prazo
- Erosão das habilidades de comunicação interpessoal: Ao terceirizar a comunicação, reduz-se a prática de habilidades sociais essenciais, como escuta ativa, improvisação e resolução de conflitos em tempo real.
- Aprofundamento do isolamento digital: O distanciamento pode ser intensificado, levando à experiência de relacionamentos superficiais, faltando empatia e resiliência emocional em situações de contato social direto.
- Vulnerabilidade à deterioração da saúde mental: O isolamento tecnológico favorece a solidão, que por sua vez eleva riscos de quadros depressivos e ansiosos, como já demonstrado em estudos com jovens pós-pandemia.
Impacto na sociedade
O alto grau de automação por IA altera, lentamente, o tecido social:
- Redução do capital social: Menos interações autênticas resultam em comunidades menos coesas e solidárias.
- Descompasso entre conveniência e conexão: A IA resolve problemas transacionais, mas não substitui o papel das relações humanas em processos de empatia, negociação e construção de confiança.
- Desigualdade emocional: Jovens menos propensos ao contato humano podem ter mais dificuldade de adaptação em contextos profissionais e pessoais que exigem comunicação direta e assertiva.
Apesar dos benefícios evidentes da automação por IA — especialmente para quem sofre ansiedade ao telefone — é fundamental observar o lado sombrio dessa tendência: o risco de fomentar isolamento social e desgaste da saúde mental na Geração Z.
A sociedade, empresas e educadores devem buscar um equilíbrio entre conveniência tecnológica e promoção ativa de conexões humanas, estimulando atividades que desenvolvam as capacidades de diálogo, empatia e resiliência.