O Brasil enfrenta um desafio significativo no combate ao contrabando de madeira, uma prática que não apenas prejudica a economia, mas também causa danos irreparáveis ao meio ambiente. Para enfrentar esse problema, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil), desenvolveu uma tecnologia inovadora que promete revolucionar a identificação de produtos ilegais.
A nova metodologia utiliza imagens que podem ser capturadas até mesmo por celulares, permitindo que especialistas realizem a identificação macroscópica das espécies de madeira através das fotos. Isso aumenta significativamente a eficácia das operações policiais na fiscalização e no combate à exploração ilegal. O especialista não precisa estar presente no local da operação; as análises das amostras são enviadas pela internet, e os laudos são emitidos a partir de um único local, proporcionando maior agilidade no processo. Com essa abordagem, é possível detectar a atuação de contrabandistas e realizar autuações em qualquer lugar do país.
Mais reclamações dos serviços da EDP
A responsável pelo desenvolvimento dessa técnica é a pesquisadora Sandra Florsheim, do IPA. A ideia surgiu de uma experiência pessoal: “Fui ao dermatologista e o médico usou um aparelho microscópico para examinar minha pele. Aí eu tive a ideia de comprar esse aparelho e fiz alguns ajustes para que ele ampliasse em 10 vezes a imagem, apto para fazer a identificação”, explica Sandra. Desde então, qualquer aplicativo de zoom no celular que amplifique a imagem em 10 vezes é suficiente para realizar a leitura correta da anatomia da madeira.
Os policiais federais e militares de São Paulo são treinados pelo IPA para utilizar essa tecnologia. Durante o treinamento, que dura cerca de 40 horas, os agentes aprendem a coletar amostras e tirar fotos amplificadas em 10 vezes. As análises são realizadas nos planos transversal e tangencial, permitindo uma identificação precisa da espécie. Essa capacitação é crucial para garantir que os policiais possam identificar se a madeira é nativa ou exótica.
A importância dessa análise vai além da fiscalização; ela é vital para garantir que os produtos comercializados tenham certificação adequada. O manejo florestal sustentável é essencial para proteger os recursos naturais do Brasil e evitar a exploração ilegal
O contrabando de madeira gera consequências devastadoras para o meio ambiente. A exploração ilegal resulta na perda da biodiversidade, colocando em risco diversas espécies da fauna e flora nativas. Animais que dependem das sementes para se alimentar e dispersar as sementes pelo solo também são afetados. Além disso, a degradação das florestas provoca poluição do solo e diminuição dos mananciais hídricos.
Toda madeira transportada deve possuir um Documento de Origem Florestal (DOF), emitido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Este documento contém informações cruciais sobre as espécies, tipo de material, volume, valor do carregamento, placa do veículo, origem e destino da carga. A correta identificação da madeira facilita a fiscalização e evita fraudes nas exportações e importações.
Durante as operações de verificação das cargas em caminhões ou depósitos de madeireiras, se for confirmada qualquer ilegalidade, a polícia realiza a apreensão da mercadoria. A carga apreendida é direcionada para um pátio cedido pelo município até que as autoridades judiciais tomem as providências necessárias.
O crime relacionado ao uso de documentos falsos para o transporte de madeira ilegal está previsto no artigo 304 do Código Penal brasileiro. As penas podem chegar a um ano de prisão e multas significativas por hectare ou fração.
A tecnologia desenvolvida pelo IPA representa um avanço significativo na luta contra o contrabando de madeira no Brasil. Ao permitir que especialistas identifiquem espécies à distância com agilidade e precisão, essa inovação não apenas fortalece as operações policiais, mas também promove o uso sustentável dos recursos naturais.
Com o apoio da pesquisa científica e o treinamento adequado das forças policiais, o Brasil avança na proteção de suas florestas e na preservação da biodiversidade. O combate ao contrabando de madeira é uma tarefa coletiva que envolve não apenas as autoridades, mas também a conscientização da população sobre a importância da legalidade na comercialização desse recurso vital.
@valeemacao1