A nova realidade nas feiras literárias: um alerta para o mundo cultural progressista
Recentemente, a decisão do prefeito de São José dos Campos de vetar a participação da jornalista Milly Lacombe na Festa Litero Musical (FLIM) gerou intenso debate no meio cultural e político. A controvérsia surge a partir das declarações de Lacombe, nas quais critica o conceito da chamada “família tradicional, branca, conservadora e brasileira”, posicionamento que, consequentemente, colidiu com os valores majoritariamente cristãos e conservadores da população local. Mais do que focar na polêmica em si, cabe uma reflexão mais profunda e racional sobre o contexto dessa decisão e o que ela sinaliza para o futuro da produção cultural no Brasil.

Por décadas, as feiras literárias e eventos culturais no país vêm, de maneira explícita ou velada, boicotando a participação de intelectuais e artistas que se identificam com visões conservadoras, cristãs e liberais clássicas. Esses setores progressistas têm predominado nos espaços culturais, muitas vezes promovendo uma homogeneização ideológica que exclui vozes divergentes. Essa hegemonia, porém, começa a ser desafiada. Líderes e representantes da direita conservadora estão reagindo e exigindo que seus representantes e ideias finalmente ocupem o espaço que historicamente lhes tem sido negado.
Esse movimento conservador dá sinais claros de que busca equilibrar o jogo, assegurando que seus valores — que representam a maioria do povo brasileiro, segundo pesquisas e manifestações eleitorais — sejam respeitados e considerados na segmentação cultural. Não se trata apenas de ideologia, mas de um reflexo da vontade popular que financia esses eventos, majoritariamente por meio de recursos públicos. O receio dos gestores políticos em contrariar seus eleitores, cuja maioria é conservadora e cristã, é legítimo e compreensível. Afinal, os votos refletem diretamente no destino das urnas e, consequentemente, no financiamento e credibilidade dos eventos culturais.
Diante desse cenário, é necessário que os produtores culturais progressistas façam um autoexame crítico e revisem suas práticas profissionais. A imposição de uma visão única e o silenciamento das opiniões diferentes corroem a liberdade fundamental que deveria permear o campo cultural. Em vez de promover a diversidade de pensamento, que deveria ser a essência do debate literário e artístico, observa-se uma segregação intolerante e autoritária, que não é benéfica para ninguém.
Produzir cultura com exclusão ideológica não é promover cultura — é promover censura. O veto a Milly Lacombe, embora cause desconforto em setores progressistas, revela uma reação esperada diante do monopólio ideológico exercido amplamente até o momento. A alternativa à exclusão é a inclusão aberta e a prática da tolerância real. Intelectuais e artistas progressistas que desejam continuar influenciando a sociedade precisam estar dispostos a conviver com o pensamento divergente, promovendo o diálogo e buscando o entendimento mútuo, em vez da condenação imposta.
É preciso reconhecer que o Brasil, em sua pluralidade, é um país estruturalmente conservador e de valores cristãos consolidados. Ignorar essa realidade é um erro grave que acarretará o fechamento progressivo de espaços para os produtores culturais que insistem em permanecer isolados ou confrontativos. Os financiadores, geralmente órgãos públicos, seguirão a orientação dos eleitores e ajustarão seu suporte aos projetos que dialoguem com essa maioria social.
Portanto, o veto a Milly Lacombe não pode ser interpretado como um caso isolado de censura, mas como um sintoma da mudança do ambiente cultural brasileiro. Uma mudança na qual a cultura de diversidade de opiniões deve prevalecer, sim, mas com respeito e espaço para todas as correntes, sem que haja imposição de uma única visão. Esse é o caminho para que as feiras literárias, eventos culturais e espaços públicos continuem a existir de forma plural, democrática e alinhada aos valores da maioria da população.
Em suma, o alerta que fica para os intelectuais progressistas é claro: a atual conjuntura exige mais tolerância, pluralidade verdadeira e disposição para o diálogo potencialmente transformador. Caso contrário, estarão fadados a um progressivo isolamento, perdendo espaços e influência em um cenário político-cultural que evolui para refletir o pensamento conservador majoritário no Brasil.