Bill Gates recentemente destacou o Brasil como um país com potencial para assumir uma liderança global nas questões climáticas, ressaltando que o país já tem feito avanços importantes em mitigação de emissões e inovação, especialmente na agricultura com a Embrapa, que ele chamou de “uma força do país”.
Essa declaração vem em um momento crucial, com a COP30 marcada para novembro de 2025 em Belém, evento que Gates considera um possível marco para o Brasil em termos de mitigação e adaptação climática.
Mas será que o Brasil realmente tem condições concretas para assumir esse protagonismo? E, mais importante, será que nossos políticos têm a capacidade de interpretar e agir conforme essa realidade?
O potencial brasileiro: Agricultura, energia limpa e inovação
Bill Gates destaca que o Brasil já tem iniciativas pioneiras, como o combate à desnutrição e a produção de aço com energia limpa, citando inclusive o investimento em tecnologias para produzir “aço verde” no país.
Essa visão aponta para um Brasil que pode aliar sua vasta riqueza natural a tecnologias inovadoras para reduzir o impacto ambiental.
A Embrapa, por exemplo, é um símbolo dessa inovação verde, sendo reconhecida internacionalmente por desenvolver soluções sustentáveis para a agricultura, que é um dos pilares da economia brasileira.
A inteligência artificial, segundo Gates, também pode impulsionar ainda mais esses avanços, trazendo eficiência e sustentabilidade para o campo e para a indústria.
O grande obstáculo: A política nacional
Porém, Gates não deixa de alertar para o que talvez seja o maior desafio brasileiro: a polarização política e a falta de consenso sobre a preservação ambiental.
Ele compara o Brasil aos Estados Unidos, onde há um lado que defende a destruição da Amazônia e outro que luta pela sua proteção. Essa divisão torna difícil a criação e implementação de políticas públicas eficazes e estáveis.
A questão é: como esperar que o Brasil se torne uma liderança climática global se o debate político interno ainda é marcado por interesses conflitantes, que muitas vezes colocam o desenvolvimento econômico imediato acima da sustentabilidade?
A destruição da floresta amazônica, que é um dos maiores patrimônios naturais do planeta, exige políticas públicas firmes e contínuas, mas o cenário político brasileiro é instável e fragmentado, dificultando essa continuidade.
O desafio da governança e a oportunidade da COP30
A COP30 em Belém representa uma oportunidade única para o Brasil mostrar ao mundo que pode ser protagonista na agenda climática.
Gates acredita que o evento será um marco importante para o país e para o mundo, tanto na mitigação quanto na adaptação às mudanças climáticas.
Mas será que nossos governantes conseguirão aproveitar essa chance?
Será que o Brasil vai conseguir se posicionar como um país ocidental, com compromisso real e consistente com o meio ambiente, como sugeriu Arminio Fraga, outro nome que tem refletido sobre o papel brasileiro no cenário global?
Entre o potencial e a realidade
O Brasil tem tudo para ser um exemplo mundial em sustentabilidade: recursos naturais abundantes, centros de pesquisa como a Embrapa, avanços tecnológicos e uma crescente consciência ambiental em parte da sociedade.
No entanto, o que parece travar esse potencial é justamente a incapacidade política de fazer uma leitura clara e estratégica dessa realidade.
Será que nossos políticos conseguem enxergar além do curto prazo e das disputas ideológicas para abraçar um projeto de país que une desenvolvimento econômico e preservação ambiental?
Ou continuaremos a ver o Brasil como uma “história mista”, com avanços e retrocessos que dependem do partido que está no poder?
A resposta a essas perguntas vai definir se o Brasil será apenas mais um país com potencial desperdiçado ou se realmente assumirá o protagonismo climático que Bill Gates vislumbra.
A COP30 pode ser o momento de virar esse jogo, mas para isso é preciso mais do que tecnologia e recursos: é preciso coragem política e visão de futuro.
