Suicídio de idoso no metrô de SP desafia padrões e alerta para crise de saúde emocional

A morte do idoso de 74 anos que ateou fogo em seu próprio corpo na estação São Bento do Metrô, no centro de São Paulo, foi confirmada nesta segunda-feira (2/6). O caso aconteceu no dia 30/5 e chocou quem presenciou a trágica cena. A vítima chegou a ser socorrida e levada ao hospital com queimaduras graves, mas não resistiu. O episódio reacendeu o debate sobre o sofrimento emocional silencioso, especialmente em uma faixa etária pouco comum em estatísticas de suicídio.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio está entre as dez causas mais frequentes de morte no mundo, sendo a segunda ou terceira entre pessoas de 15 a 34 anos. Além disso, estima-se que, para cada suicídio consumado, haja pelo menos dez tentativas graves que exigem atenção médica, e outras quatro sequer registradas. Por isso, casos como o ocorrido em São Paulo despertam ainda mais atenção quando se trata de um idoso, faixa etária que costuma ficar fora das estatísticas mais recorrentes.

“O suicídio, nesses moldes, foge completamente dos padrões comuns”, analisa o especialista em Primazia da Gestão e Comportamento Humano, Orlando Pavani Júnior. “Normalmente, quem pratica o suicídio são pessoas mais jovens (15 a 34 anos de idade), com alguma relação de vícios em drogas, ou com forte relação ideológica a ideais revolucionários. É raro vermos um idoso de classe média como protagonista de uma cena como essa.”

A partir da obra clássica de Émile Durkheim, Le Suicide, de 1897, Pavani reforça que o suicídio não deve ser interpretado apenas como uma manifestação individual de desordem emocional. “O suicida é o ator final que dá o golpe de misericórdia, mas a sociedade o feriu de forma intempestiva durante anos ou décadas de opressão ou de puro desprezo.”

O especialista defende que, por trás de muitos desses atos, está o acúmulo de sofrimento não verbalizado, não assistido e muitas vezes ignorado pelas pessoas ao redor. “O sofrimento do pretenso suicida é silencioso, pouco observado pelos que convivem com ele e normalmente desqualificado pelo próprio suicida que se culpa pelo sofrimento e carece da automotivação necessária para superar as dificuldades e encontrar prazer pela vida”, explica.

Pavani também alerta para os riscos de falsas promessas de cura emocional, muitas vezes buscadas por quem sofre em silêncio. “A busca por querer resolver tudo sozinho, sem acreditar que ajuda técnica poderia contribuir para sanar os pensamentos suicidas, incrementa a problemática. Este pensamento é reforçado quando aquele que sofre busca o tal Movimento Patético dos Coachings como alternativa de tratamento, mas logo constata mais uma enganação e afunda ainda mais no sentimento angustiante.”

Com mais de 25 anos de estudos dedicados à Medicina Comportamental e às Neurociências, o especialista afirma que enfrentar essa realidade exige um olhar profundo sobre a estrutura emocional do indivíduo e o ambiente que o cerca. “A solução é bastante complexa, admito, e abrange o que tenho estudado nos últimos 25 anos. Envolve questões pessoais (75%, na minha opinião) e questões mais amplas no âmbito da sociedade como um todo (25%). Como temos pouca capacidade de resolver os 25% relativos ao âmbito mais amplo, nos cabe fazer nosso driver e focar de forma intempestiva no desenvolvimento dos 75% que envolve a Inteligência Comportamental.”

Por fim, Pavani desmistifica a ideia de que o suicídio seja um ato de coragem. “Não é um ato de coragem, como pensam alguns, ao contrário, é um ato de covardia para empreender, com coragem e bravura, a busca interior que traria a PLENITUDE libertadora”, conclui, mencionando os conceitos filosóficos de eudaimonia e ataraxia como metas possíveis para quem decide buscar ajuda e se reconectar com a vida.

O caso segue sendo investigado pelas autoridades. Enquanto isso, a cena chocante permanece como um sinal de alerta: o sofrimento psíquico não pode continuar invisível.

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