O estado de São Paulo apresentou em 2023 a maior taxa de homicídios ocultos do Brasil, com 4,8 mortes por 100 mil habitantes, superando em muito a média nacional de 1,7, segundo dados do Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
O que são homicídios ocultos?
Homicídios ocultos são mortes violentas classificadas oficialmente como “causa indeterminada” – ou seja, casos em que não se consegue identificar se a morte foi causada por homicídio, acidente ou suicídio. Essas mortes, chamadas tecnicamente de Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI), não são contabilizadas como homicídios nos registros oficiais, o que leva a uma subnotificação significativa.
Dados alarmantes em São Paulo
Em 2023, São Paulo concentrou 60,6% das mortes por causa indeterminada no país, totalizando 2.277 casos. Essa cifra representa mais da metade dos homicídios ocultos nacionais, que somaram 3.755 naquele ano.
Nos últimos dez anos, o número de homicídios ocultos em São Paulo aumentou 130,2%, passando de 989 em 2013 para 2.277 em 2023. Esse crescimento evidencia problemas na qualidade dos registros e na identificação correta das causas das mortes violentas.
Oficialmente, São Paulo apresenta a menor taxa de homicídios do país, com 6,4 mortes por 100 mil habitantes, bem abaixo da média nacional de 21,2. No entanto, ao incluir os homicídios ocultos, a taxa estimada para o estado sobe para 11,2, o que o coloca como o segundo estado menos violento, atrás de Santa Catarina.
Somando os homicídios oficiais e ocultos, o total de assassinatos em São Paulo em 2023 chega a 5.320, um número significativamente maior do que o registrado oficialmente. Isso mostra que os dados oficiais não refletem plenamente a realidade da violência letal no estado e no país.
Especialistas apontam que a precariedade na emissão e análise dos atestados de óbito, além da dificuldade dos legistas em diferenciar entre homicídio, acidente e suicídio, contribuem para a alta taxa de homicídios ocultos em São Paulo. A subnotificação compromete a formulação de políticas públicas eficazes para o combate à violência.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que utiliza dados de natureza jurídica e criminológica diferentes dos usados pelo estudo, coletados pelo DataSUS, e que realiza monitoramento e análise minuciosa dos casos com vítimas fatais para evitar classificações errôneas. Contudo, a disparidade entre os dados oficiais e os do Atlas da Violência indica a necessidade de melhorias nos processos de registro e investigação.
No Brasil, entre 2013 e 2023, foram identificados 51.608 homicídios ocultos, o que representa cerca de 38% das mortes violentas registradas no período. Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia concentram dois terços dessas mortes sem causa determinada, evidenciando um problema estrutural na qualidade dos registros de violência letal no país.
O levantamento do Atlas da Violência 2025 revela que a realidade da violência no Brasil, especialmente em São Paulo, é mais grave do que indicam os dados oficiais. A existência de um alto número de homicídios ocultos compromete a compreensão da violência e a efetividade das políticas públicas, exigindo aprimoramento na identificação e registro das causas de mortes violentas para um combate mais eficaz à criminalidade