Gustavo Werneck presidente da Gerdau expressa preocupação com o futuro da indústria nacional

Em recente entrevista à revista Veja, Gustavo Werneck, presidente da Gerdau, maior siderúrgica do Brasil, expressou um profundo desânimo com o atual cenário da indústria brasileira e manifestou sérias preocupações sobre seu futuro. 

Suas declarações, publicadas na edição de 24 de abril de 2025, revelam um quadro preocupante marcado pela concorrência predatória do aço importado, especialmente da China, e pela ausência de políticas governamentais eficazes para proteger o setor.

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Aumento da importação predatória e falta de defesa comercial

Werneck destacou que a participação do aço chinês no mercado brasileiro saltou de 10% para 25% nos últimos anos, mesmo após a adoção de cotas e tarifas pelo governo em 2024, medidas que, segundo ele, não foram suficientes para conter a “invasão” do aço subsidiado. 

O executivo enfatizou que a concorrência desleal é estimulada pelo próprio Estado chinês, que subsidia a produção para manter empregos e evitar instabilidade social, o que torna impossível competir em condições justas.

Ele afirmou que o Brasil precisa adotar medidas mais duras de defesa comercial, diferenciando claramente defesa de proteção: “Não queremos proteção, queremos condição de competir de igual para igual”.

Obstáculos estruturais internos e impacto nos investimentos

Além da concorrência externa, Werneck apontou problemas internos que minam a competitividade da indústria brasileira, como a complexidade tributária — com 123 pessoas dedicadas à área tributária no Brasil, contra apenas três nos Estados Unidos — e o alto custo do gás natural, quatro vezes maior do que o praticado nos EUA. 

Ele também criticou o desmonte da reforma trabalhista, que havia sido implementada para aumentar a competitividade do setor.

Esses fatores contribuem para um ambiente de insegurança que dificulta investimentos e coloca em risco projetos importantes, como a Gerdau Summit, unidade criada para produzir aço para a indústria de energia eólica, que ainda não conseguiu vender sequer um quilo do produto devido à falta de demanda.

Preocupação com o futuro da indústria e possível desinvestimento

Werneck expressou forte preocupação com o futuro da indústria nacional e com a continuidade dos investimentos da Gerdau no Brasil. Ele alertou que, se o cenário atual persistir, a empresa poderá direcionar seus investimentos para outros países, como os Estados Unidos, onde já possui usinas e onde o governo adotou tarifas de 25% sobre o aço importado, criando um ambiente mais favorável para o setor. 

O CEO ressaltou que o setor automotivo, de energia e de máquinas e equipamentos enfrenta dificuldades, o que compromete a demanda por aço e a sustentabilidade da indústria nacional.

Uma janela de oportunidade e o desafio brasileiro

A escalada tarifária dos Estados Unidos, iniciada para conter importações, abriu uma janela de oportunidade para que o Brasil repense sua política industrial e de defesa comercial, mas Werneck lamenta que o país ainda não tenha adotado uma postura firme nesse sentido. 

Ele conclui que, sem medidas efetivas para garantir condições justas de competição, o Brasil corre o risco de perder sua capacidade produtiva, com impactos econômicos e sociais profundos.

Baseando-se na entrevista concedida à revista Veja, o desabafo de Gustavo Werneck é um alerta contundente sobre a crise estrutural que atinge a indústria brasileira, especialmente a siderúrgica.

A falta de políticas claras e eficazes para enfrentar a concorrência desleal e os desafios internos pode levar a um processo acelerado de desindustrialização, com consequências negativas para a economia e o emprego no país. O futuro da indústria nacional depende da capacidade do governo e da iniciativa privada de construir um ambiente competitivo e sustentável.

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