Nos falta empatia?

Notícia publicada em: 28 de janeiro de 2021

Uma médica que labora no hospital de campanha da cidade de Guajará-Mirim, no Estado de Rondônia, foi manchete dos principais jornais de nosso país. Isso porque após realizar duas intubações em pacientes ela escreveu em uma rede social: “Dois intubados no mesmo plantão kakakakka. Mais um peço música no fantástico”.
No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde declarou que nosso mundo vivenciava uma pandemia, por conta do coronavírus.

Dr. Danilo Homem de Melo Gomes da Silva
Dr. Danilo Homem de Melo Gomes da Silva

Até o momento mais de duas milhões de pessoas perderam suas vidas por conta de mencionado vírus. Somente em nosso país mais de duzentas e vinte mil pessoas faleceram, em decorrência do coronavírus.
Nossa cidade, Pindamonhangaba/SP, possui um pouco mais de cento e setenta mil habitantes. Desta feita já faleceram em nosso país mais pessoas do que toda a população de Pindamonhangaba. É como se, no espaço de cerca de um ano, todos os munícipes: idosos, adultos, jovens e crianças simplesmente morressem.
Além da gravidade gerada pela pandemia em termos de saúde, econômicos, sociais, etc., enfrentamos, infelizmente, uma disputa política permeada principalmente entre o Presidente da República e inúmeros Governadores. Disputa esta que somente enfraquece o verdadeiro objetivo que deveria permear mas mentes de nossos mandatários: salvar vidas.
Existe uma palavra em nosso dicionário, de grande importância social, que é pouco exercitada pela população de um modo geral, o vocábulo é empatia.
O termo empatia nos remete a ideia de: “[Psicologia] Identificação de um sujeito com outro; quando alguém, através de suas próprias especulações ou sensações, se coloca no lugar de outra pessoa, tentando entendê-la.” (fonte: https://www.dicio.com.br/empatia/. Acesso em 28/01/2021).
Veja a empatia significa, dentre outras coisas, nos colocarmos no lugar da outra pessoa objetivando entende-la, seja suas motivações políticas, suas ideologias de vida, sua sensação de raiva, medo, etc.
Daí a pergunta reflexiva: será que a médica quando postou àquelas palavras estava envolta pela empatia? Claramente que não.
Infelizmente vivenciamos uma era digital sem precedentes, onde o importante é postar, postar e postar, e aguardar os comentários, as curtidas, os compartilhamentos.
Há pessoas que se importam diuturnamente com estas coisas. Há pessoas que são dependentes digitais, viciados nas redes sociais. Estima-se que nossa nação é a segunda “mais viciada em internet” no mundo. Em média o brasileiro passa mais de nove horas diárias na internet (https://olhardigital.com.br/2019/02/01/noticias/o-brasil-e-a-segunda-nacao-mais-viciada-em-internet-do-mundo/. Acesso em 28/01/2021).
Psiquiatras, psicólogos e outros especialistas do Vale do Silício indicam que a dependência das redes sociais pode causar: ansiedade, irritabilidade, falta de autocontrole, etc. (fonte: https://www.iberdrola.com/compromisso-social/como-redes-sociais-afetam-jovens. Acesso em 28/01/2021).
Daí devemos refletir: quando a médica postou àquelas palavras ela estava em seu autocontrole? Acredito que não.
Vivemos em uma comunidade, a comunidade humana, e de acordo com a teoria da evolução das espécies temos um ancestral em comum, desta feita, somos todos ligados, somos todos conectados, com esta linhagem ancestral.
E quando verificamos matérias jornalísticas, tendo como objeto: crimes, guerras, fome, colapso na saúde, dentre outros, qual o sentimento que nos afeta? Somos empáticos? Somos solidários?
Precisamos, para a construção de uma sociedade realmente justa, que a empatia nos guie diariamente, afinal um ser humano empático jamais debocharia de ter realizado duas intubações, no mesmo plantão, e que poderia, caso houvesse a terceira “pedir música no fantástico”.
Dr. Danilo Homem de Melo Gomes da Silva