Nos falta empatia?
Notícia publicada em: 28 de janeiro de 2021
Uma médica que labora no hospital de campanha da cidade de Guajará-Mirim, no Estado de Rondônia, foi manchete dos principais jornais de nosso país. Isso porque após realizar duas intubações em pacientes ela escreveu em uma rede social: “Dois intubados no mesmo plantão kakakakka. Mais um peço música no fantástico”.
No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde declarou que nosso mundo vivenciava uma pandemia, por conta do coronavírus.

Até o momento mais de duas milhões de pessoas perderam suas vidas por conta de mencionado vírus. Somente em nosso país mais de duzentas e vinte mil pessoas faleceram, em decorrência do coronavírus.
Nossa cidade, Pindamonhangaba/SP, possui um pouco mais de cento e setenta mil habitantes. Desta feita já faleceram em nosso país mais pessoas do que toda a população de Pindamonhangaba. É como se, no espaço de cerca de um ano, todos os munícipes: idosos, adultos, jovens e crianças simplesmente morressem.
Além da gravidade gerada pela pandemia em termos de saúde, econômicos, sociais, etc., enfrentamos, infelizmente, uma disputa política permeada principalmente entre o Presidente da República e inúmeros Governadores. Disputa esta que somente enfraquece o verdadeiro objetivo que deveria permear mas mentes de nossos mandatários: salvar vidas.
Existe uma palavra em nosso dicionário, de grande importância social, que é pouco exercitada pela população de um modo geral, o vocábulo é empatia.
O termo empatia nos remete a ideia de: “[Psicologia] Identificação de um sujeito com outro; quando alguém, através de suas próprias especulações ou sensações, se coloca no lugar de outra pessoa, tentando entendê-la.” (fonte: https://www.dicio.com.br/empatia/. Acesso em 28/01/2021).
Veja a empatia significa, dentre outras coisas, nos colocarmos no lugar da outra pessoa objetivando entende-la, seja suas motivações políticas, suas ideologias de vida, sua sensação de raiva, medo, etc.
Daí a pergunta reflexiva: será que a médica quando postou àquelas palavras estava envolta pela empatia? Claramente que não.
Infelizmente vivenciamos uma era digital sem precedentes, onde o importante é postar, postar e postar, e aguardar os comentários, as curtidas, os compartilhamentos.
Há pessoas que se importam diuturnamente com estas coisas. Há pessoas que são dependentes digitais, viciados nas redes sociais. Estima-se que nossa nação é a segunda “mais viciada em internet” no mundo. Em média o brasileiro passa mais de nove horas diárias na internet (https://olhardigital.com.br/2019/02/01/noticias/o-brasil-e-a-segunda-nacao-mais-viciada-em-internet-do-mundo/. Acesso em 28/01/2021).
Psiquiatras, psicólogos e outros especialistas do Vale do Silício indicam que a dependência das redes sociais pode causar: ansiedade, irritabilidade, falta de autocontrole, etc. (fonte: https://www.iberdrola.com/compromisso-social/como-redes-sociais-afetam-jovens. Acesso em 28/01/2021).
Daí devemos refletir: quando a médica postou àquelas palavras ela estava em seu autocontrole? Acredito que não.
Vivemos em uma comunidade, a comunidade humana, e de acordo com a teoria da evolução das espécies temos um ancestral em comum, desta feita, somos todos ligados, somos todos conectados, com esta linhagem ancestral.
E quando verificamos matérias jornalísticas, tendo como objeto: crimes, guerras, fome, colapso na saúde, dentre outros, qual o sentimento que nos afeta? Somos empáticos? Somos solidários?
Precisamos, para a construção de uma sociedade realmente justa, que a empatia nos guie diariamente, afinal um ser humano empático jamais debocharia de ter realizado duas intubações, no mesmo plantão, e que poderia, caso houvesse a terceira “pedir música no fantástico”.
Dr. Danilo Homem de Melo Gomes da Silva